“Climat: on en parle (beaucoup) mais on ne fait (presque) rien”.
Guillaume Duval
Um grupo de cientistas internacionais verificou que a ruptura das gigantescas coberturas de gelo Larsen A e B no Antárctico estão a modificar de forma dramática o ecossistema das águas da região, onde a alteração climática permitiu ver, pela primeira vez, 10000 quilómetros quadrados do fundo marinho, que estiveram ocultos sob o gelo, onde os cientistas encontraram uma multidão de animais nunca vistos.
A camada de gelo Larsen é uma gigantesca crosta gelada que cobre o Mar de Weddell, na costa Oriental da Península Antárctica, que é parte do Oceano Meridional, ao Sul do Oceano Atlântico, sendo um acréscimo de terra próximo do extremo meridional da Argentina e Chile.
Tudo começou, quando em 1995 e posteriormente em 2002, duas gigantescas parcelas da cobertura de gelo (Larsen A e Larsen B, sendo esta última do tamanho do Estado de Rhode Island, nos Estados Unidos) se desprenderam, tornando-se num acontecimento extraordinário que os cientistas imputam ao processo de aquecimento global.
O súbito desaparecimento de cerca de 10000 quilómetros de gelo, que cobriu durante milhares de anos uma extensa parte do oceano, criou uma oportunidade única aos cientistas para observar e prever algumas das alterações que se avizinham, face à imparável subida das temperaturas a nível global.
Entre Novembro de 2006 e Janeiro de 2007, 52 cientistas de 14 países participaram numa expedição no navio de investigação científica “Polarstern” no Antárctico, e que permanece durante 320 dias no mar, com o fim de estudar as mudanças na região e o significado do começo do projecto “Censo da Vida Marinha Antárctica”, um dos maiores projectos lançados no Ano Polar Internacional, que começou no dia 1 de Março.
É um exemplo do que vai acontecer no futuro, e em termos biológicos está a suceder de forma rápida.
O que os cientistas descobriram é uma enorme quantidade de novas espécies que estão a colonizar as águas postas o descoberto pela fractura das camadas de gelo, o que está a modificar de forma trágica o seu ecossistema tradicional.
Antes do desaparecimento da camada de gelo de 200 metros de grossura, o solo marinho em Larsen era muito variado, desde a rocha até ao barro, reflectindo-se na alta diversidade biológica dos animais que viviam no sedimento, ainda que, em termos quantitativos a sua abundância fosse apenas de 1% comparado com outras zonas do Mar Weddell.
Os cientistas afirmam que a fragmentação das camadas de gelo Larsen, podem ensinar sobre os impactos de alterações induzidas pelo clima na biodiversidade marinha e o funcionamento do ecossistema.
A expedição do navio de investigação científica “Polarstern”, do qual faz parte um português da Universidade do Algarve, encontrou na zona deixada a descoberto na zona Larsen B, espécies como anémonas, ouriços-do-mar, camarões, polvos e corais que são consideradas, os primeiros colonizadores.
Na zona Larsen A, as novas espécies que tiveram mais tempo para colonizar, e designada pelos cientistas como segunda vaga de invasores, foram grandes acumulações de esponjas.
Os pesquisadores, recolheram amostras de cerca de mil espécies durante as dez semanas que durou a viagem, e crêem ter descoberto quinze novas espécies de anfípodas, que são animais semelhantes a camarões, entre eles, um dos maiores crustáceos da Antárctida, que é um camarão de dez centímetros de comprimento.
A expedição, descobriu ainda, quatro novas espécies de cnidários, que são organismos inventariados com os corais, medusas e anémonas-do-mar, entre eles, possivelmente uma nova anémona que vive de forma simbiótica como um caracol de mar.
Outra das surpresas da expedição foi a rapidez a que o novo habitat está a ser utilizado e colonizado por baleias-minke em densidades consideráveis.
A primeira conclusão a retirar é de que o ecossistema na água mudou de forma apreciável, e que a explosão de vida causada acidentalmente pela alteração climática na cobertura de gelo Larsen não se pode extrapolar ao resto do continente antárctico.
A segunda conclusão é de que o aquecimento das águas mais produtivas do planeta estão a causar uma diminuição na produção de krill, crustáceos minúsculos que são a base da cadeia alimentar dos oceanos, fundamental a outros animais superiores.
A terceira conclusão é de que o degelo dos pólos e glaciares é uma consequência directa do aumento das temperaturas.
As pavorosas secas em África, com as suas correspondentes fomes, desaparecimento de espécies, inundações na Europa Central e Ásia, furacões nas Caraíbas, tufões na Ásia, escassez de neve nos Alpes, degelo nos Himalaias, desde há alguns anos tem um culpado único não só para estes danos, mas para a grande parte dos que assolam o planeta, e chamado “Homem”.
A actividade humana está a criar ano após ano, um aumento das emissões de gases de efeito de estufa, que provocam o progressivo e imparável aumento das temperaturas do planeta.
Tentar mitigar os seus efeitos está nas mãos de todos, mas sem optimismos exagerados porque os efeitos do aquecimento global são inequívocos e muitos dos danos irreparáveis.
Se a situação, é actualmente má, o futuro não se nos depara pintado de cores mais alegres.
Os últimos relatórios científicos são inquestionáveis, e dão como tendo o planeta aquecido durante os últimos 100 anos, cerca de 0,74 graus centígrados, e continuará a aumentar a um ritmo de 0,2 graus por década.
Na atmosfera a situação não é melhor e como referimos anteriormente, a concentração de dióxido de carbono é a mais alta dos últimos 650000 anos, em que a concentração de gases de efeito estufa atinge 379 partes por milhão, e continua a subir.
Os líderes mundiais chegaram tardiamente à conclusão de que é o maior problema da humanidade, e estão dispostos a subir a uma carroça, que é a da luta contra o aquecimento do planeta, ao qual não deram nenhuma atenção nas últimas décadas.
Para que o esforço comece a dar alguns parcos frutos, falta o envolvimento de um gigante, os Estados Unidos, responsável pela emissão de 25% dos gases contaminantes do mundo, e o Presidente Bush, tem tido o trabalho de nada fazer.
Portugal, e nestes anos o governo parece ter ganho consciência de que há muito trabalho a fazer e urgente nesta matéria, pois não é em vão que somos o país da União Europeia que está mais longe de cumprir os objectivos de Kyoto.
Enquanto se discutem medidas como o incentivo do uso de energias renováveis, o transporte marítimo e a pé, os cientistas alertam, que a seguir na mesma direcção, o futuro que teremos será de secas ainda mais prolongadas e frequentes, aumento de temperaturas e mais episódios de fortes temporais.
O planeta aquece-se e o responsável é o homem.
Esta sentença não vem de um grupo ecologista, mas sim do relatório do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC).
Nenhum cientista nega a evidência, de que as emissões de gases de efeito de estufa têm uma consequência directa e irreversível sobre a superfície do planeta.
Os dados estão sobre a mesa e toda a comunidade científica os aceita.
O que varia é a forma de interpretá-los.
Estas são as três atitudes científicas mais comuns identificadas, cada uma delas, com um defensor público.
Muitos perguntarão que terá a ver esta matéria com economia internacional.
Tudo, porque foi e é devido à má elaboração das políticas económicas, que as indústrias são um vazadouro de poluentes a nível global, para satisfazer o consumismo desenfreado que nada têm de sustentável e que leva o planeta ao estado degradável em que vivemos.