JORGE RODRIGUES SIMAO

ADVOCACI NASCUNT, UR JUDICES SIUNT

O Infinito Existe ou É Apenas uma Abstracção?

HOJEMACAU - O DESPERTAR ESTRATÉGICO DA ALEMANHA (I) 1 PARTE - 13.11.2025

O Espelho do Infinito

O infinito não se vê; intui-se. Está no intervalo entre dois pensamentos, na pausa entre duas notas, no olhar que se prolonga para lá do visível. Não é uma coisa; é uma condição. Uma vibração que atravessa o instante e o torna eterno. Uma presença que não se impõe, mas que se insinua. O infinito não grita; murmura.

Há quem o procure nas estrelas, outros no interior. Uns olham para cima, outros para dentro. Mas talvez o infinito não esteja nem fora nem dentro. Talvez esteja entre. Entre o que somos e o que poderíamos ser. Entre o que dizemos e o que calamos. Entre o que tocamos e o que perdemos. O infinito é o entre; o que não se fixa, o que não se prende, o que não se fecha.

A infância tem algo de infinito. Não porque dure para sempre, mas porque nela o tempo não pesa. Cada instante é total, cada gesto é mundo, cada descoberta é origem. A criança não pensa no fim; vive. E nesse viver sem cálculo, há infinito. Não como conceito, mas como experiência. O infinito não é o que se pensa; é o que se vive antes de pensar.

O amor também tem algo de infinito. Não porque não acabe, mas porque quando é verdadeiro, suspende o tempo. Há momentos de amor em que o mundo se detém. Em que o toque é eternidade, em que o olhar é morada, em que o silêncio é plenitude. O amor não precisa de durar para ser infinito. Basta-lhe ser inteiro.

A arte é talvez o lugar onde o infinito mais se aproxima do humano. Um quadro, um poema, uma melodia são finitos na forma, mas infinitos no alcance. Tocam o que não se diz, despertam o que não se sabia, prolongam o que parecia breve. A arte é o gesto humano de tocar o intocável. De dar corpo ao que não tem corpo. De fazer do finito uma porta para o sem-fim.

Mas o infinito também assusta. Porque é o lugar onde o eu se dissolve. Onde o controlo se perde. Onde a razão se curva. O infinito é o espelho onde vemos que não somos centro. Que somos parte. Que somos passagem. E essa consciência, por vezes, dói. Porque nos lembra que tudo o que amamos é frágil. Que tudo o que somos é instante.

E no entanto, é essa fragilidade que nos torna belos. O facto de sabermos que tudo passa é o que dá valor ao que fica. O facto de sabermos que somos finitos é o que nos faz desejar o infinito. Não como posse, mas como horizonte. Não como certeza, mas como chama.

Talvez o infinito não exista como coisa. Talvez seja apenas uma ideia. Uma invenção da mente para suportar o peso do tempo. Mas mesmo que seja só isso, uma abstracção, não deixa de ser real. Porque o que a mente inventa, transforma. E o que transforma, existe.

O infinito é o que nos faz levantar os olhos. É o que nos faz perguntar. É o que nos impede de aceitar o mundo como está. É o que nos move. Mesmo que nunca o alcancemos, é ele que nos dá direcção. O infinito é bússola, não destino.

E talvez seja isso, no fim de tudo, o que importa; não saber se o infinito existe, mas saber que precisamos dele. Como quem precisa de horizonte para caminhar. Como quem precisa de silêncio para escutar. Como quem precisa de mistério para continuar a viver.

 

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