China's challenges: where is China's economy going?
“What will China’s and India’s increasing consumption of the world’s natural resources mean for them? Is their appetite for energy sustainable? And if it’s not, what are the consequences for the amount of fuel left over for the rest of us? China and India are the locomotives of global economic growth. If they stall, how will that affect economies that have spent a decade riding on their coattails?”
The end of growth
Jeff Rubin
A economia chinesa após três décadas de crescimento perde ímpeto e decide pelo mercado mundial de mercadorias de produtos primários. O crescimento médio anual da economia chinesa foi desde a década de 1980 até 2012 de 9,9 por cento, tendo no primeiro semestre deste ano, caído para 7,64 por cento.
O processo de desaceleração deu-se após o início da crise financeira global de 2008 e 2009, devido ao menor alargamento do sector das exportações e da produção industrial. O conjunto de incentivos promovido pelo Estado (fiscal, monetário e creditício) evitou uma repentina desaceleração das actividades.
O investimento público em infra-estruturas e o gasto de capital das principais empresas do país converteram-se, desse modo, na nova alavanca da economia. A explosão de investimentos, financiados por recurso a empréstimos “mais suaves” com percentagens de juros mais baixas, não apenas conduziu a uma expansão creditícia média anual de 21 por cento nos últimos cinco anos, mas também à construção de uma enorme quantidade de infra-estruturas, muitas ainda sem uso, como edifícios desabitados, fábricas encerradas, vias ferroviárias e rodoviárias pouco circuladas, o que originou sérios problemas de dívida.
A necessidade de investimento em empresas estatais (SOEs, na sigla em inglês) e o cumprimento da obrigação de uma taxa de retorno mínima sobre os créditos levou a uma desmedida concessão de empréstimos. As pequenas e médias empresas privadas encontraram dificuldades em aceder ao crédito pelos meios convencionais, e tiveram de contrair empréstimos no mercado financeiro informal.
O Banco Central, apesar de tudo, continua a manter um limite máximo de rendimento dos depósitos, afiançando ganhos às entidades financeiras, mas provocando perdas aos aforradores, que canalizavam as suas poupanças, fundamentalmente, para o sector imobiliário. Estes investimentos, conjuntamente com o gasto de capital dos municípios, que tentam cumprir o crescimento mínimo imposto, são os culpados pela bolha imobiliária desde 2005 até ao presente.
O preço dos imóveis disparou e a classe média perdeu o poder de acesso a habitações nas zonas urbanas, tendo os investimentos continuado, ficando uma imensa quantidade de unidades habitacionais e comerciais devolutas. A economia chinesa está adoptar um novo alvo na sua estratégia de crescimento que são os incentivos às exportações e ao investimento que estão a ser transferidos e tem como alvo o consumo. A dita transferência poderá ser mais brusca, se for efectuada de forma desordenada, ou que implique maiores problemas creditícios.
A desaceleração da procura afectará sem apelo nem agravo o crescimento mundial e principalmente, o dos países exportadores de matérias-primas. A China é o maior comprador de metais industriais e o maior consumidor de energia do mundo, o que causaria no mercado de mercadorias, uma forte queda, quer nos preços, quer nas quantidades transaccionadas, de produtos primários, como o petróleo, zinco e cobre.
O efeito seria sentido nos preços internacionais dos alimentos, que poderiam sofrer uma descida devido à queda da procura, o que repercutiria nas economias dos principais países exportadores de produtos primários e de origem agropecuária para a China. O crescimento médio da China no primeiro semestre do ano, revela uma clara tendência decrescente que se tem vindo a manifestar nos últimos anos.
A desaceleração tem como causa a menor expansão das exportações, as importações e a produção industrial. A queda da procura em mercados essenciais como os Estados Unidos e a União Europeia durante a crise financeira mundial, teve como efeito a contracção na procura das exportações chinesas.
Todavia, o pacote de incentivos governamentais evitou uma brusca desaceleração do crescimento, e o investimento público em infra-estruturas e o gasto de capital das principais empresas do país converteu-se no novo motor da economia chinesa. Existe presentemente uma política cautelosa de incentivos à economia, diferente daquela prosseguida durante a crise de 2008 a 2009 que se pautava por arriscados incentivos fiscais e monetários.
A prudente política seguida pode causar certos desequilíbrios a curto prazo mais trará maior estabilidade a longo prazo e como exemplo, existiu o esforço por reduzir o excesso de crédito e desencorajar os empréstimos concedidos pelos maiores bancos, tentando o governo reduzir o efectivo disponível no mercado creditício, mas a falta de liquidez causou uma alta nas taxas de juros no passado mês de Junho. Esperava-se que o Banco Central limitasse a sua intervenção tendo por objectivo evitar uma maior desestabilização no mercado, pelo que decidiu em Julho eliminar o limite mínimo para as taxas de empréstimos.
As possíveis alterações ficarão sempre dependentes de uma auditoria a nível nacional que permita conhecer a situação real da dívida pública dos governos locais. A auditoria nacional a cargo do Departamento Nacional de Auditoria é realizada para acautelar a suspensão de novos projectos, o que revela a prudência e a desconfiança das autoridades nacionais em relação à situação creditícia dos governos locais. A China tem dois desafios, o da solução dos problemas creditícios e o da transição com uma nova estratégia de crescimento suportada pelo consumo interno. É muito difícil, senão impossível, que um país cresça a taxas de dois dígitos durante três décadas, e a China não é a excepção.
À medida que se atinjam os níveis de produção de países mais desenvolvidos, a taxa de crescimento não regressa à média anual de quase 10 por cento, conforme aconteceu nos últimos trinta anos. O governo chinês afirma categoricamente que o país manterá a taxa de crescimento durante o segundo semestre do ano e prevêem um crescimento médio anual muito perto dos 7 por cento do início da década até 2015, enquanto o FMI, no seu último relatório aponta para uma taxa de crescimento até ao final do ano de cerca de 7,8 por cento e no próximo ano de 7,9 por cento ou mais.
A China se conseguir realizar uma transição para um modelo suportado pelo consumo interno, sem grandes dificuldades, é possível e realizável ter uma desaceleração gradual e suave do crescimento, ao invés de uma repentina. Tal modelo implica não apenas uma redução na taxa de investimento, e convém recordar que em 2008 foi de 47 por cento do PIB, constituindo um recorde a nível mundial, mas também uma menor poupança interna a fim de libertar maiores recursos destinados ao consumo.
A taxa de poupança desceu ligeiramente após a crise internacional, passando de 53,5 por cento do PIB em 2008 para 49,2 por cento em 2012, encontrando-se ainda, em valores muito elevados. A metade da população está concentrada nas cidades e a procura por trabalho na indústria é sobejamente maior que a oferta, pelo que os salários e as vendas a retalho estão a crescer à taxa de dois dígitos.
A continuar a este ritmo o processo de urbanização, a explosão de consumo poderá quiçá transformar a China no primeiro destinatário das exportações mundiais, corrigindo os desequilíbrios globais. A diferença existente entre o que aconteceu nos Estados Unidos e na União Europeia durante a crise é que a China tem maior margem de manobra quando tiver de implementar medidas de incentivo ao consumo.
O sector bancário, apesar das dificuldades criadas pelos numerosos créditos concedidos às empresas estatais, tem grande liquidez. O governo chinês pode resgatar os bancos estatais sem necessidade de qualquer nacionalização e tem promovido reformas no sector financeiro tendentes a incentivar o investimento privado nas indústrias em crescimento, como o turismo e as actividades culturais, a criação de centros de saúde e instituições educativas.
O governo não eliminou ainda, os limites das taxas de juros de depósitos, contudo procura auxiliar o acesso ao crédito às pequenas e médias empresas, que absorvem 80 por cento da força de trabalho, e representam 60 por cento do PIB da China. Todavia, não é possível rejeitar a possibilidade de uma desaceleração súbita do crescimento (resultado da maior fraqueza das finanças estaduais ou dificuldades em apontar hábitos de consumo das famílias).
O pessimismo reina em alguns bancos de investimento que analisam as prováveis consequências de uma taxa de crescimento entre 3 por cento e 6 por cento nos próximos anos, e dado ser a segunda economia mundial, a sua desaceleração fatalmente terá um impacto inevitável sobre a economia mundial.