JORGE RODRIGUES SIMAO

ADVOCACI NASCUNT, UR JUDICES SIUNT

Gestão sustentável empresarial

 

“While there is some customer awareness around sustainable supply chains, particularly “green”, environmental issues, and, to a lesser extent, social issues, there is always a clear focus on the supply chain as an economic cost, as reflected in the price of supply chain services or as part of product price.”

Sustainable Supply Chain Management -

Balkan Cetinkaya, Richard Cuthbertson, Graham Ewer, Thorsten Klaas-Wissing Wojciech Piotrowicz and Christoph Tyssen

 

A importância da logística tem aumentado fortemente, suportada por recursos humanos tecnicamente rentáveis e relativamente baixos custos de meios de transporte. A séria consequência deste desenvolvimento, levou ao tremendo aumento dos volumes de tráfego, que subiram ainda mais rapidamente que o crescimento económico das últimas décadas.

A dissociação desta tendência tem sido um dos principais objectivos da política da União Europeia (UE), e que tem sido motivo de controvérsias e discussão no mundo laboral. A fim de obter uma melhor compreensão da inter-relação entre as decisões logísticas orientadas de forma económica pelas empresas, e o efeito do desenvolvimento dos transportes, a Comissão Europeia (CE) apoiou uma série de projectos de pesquisa sobre esses temas.

No entanto, para alcançar os objectivos políticos da Comunidade Europeia, no que diz respeito ao desenvolvimento económico sustentável, esses resultados devem ser transferidos e traduzidos em operações diárias (industriais), de transportadores e prestadores de serviços de logística.

Um projecto denominado de “bestLog” iniciado em 2005 e 2006, é composto por nove parceiros de diferentes países europeus, como a Bélgica, República Checa, França, Alemanha, Polónia, Espanha, Suécia, Suíça e Reino Unido. Entre outros, um dos principais objectivos do “bestLog” é a promoção e divulgação da logística das melhores práticas na comunidade laboral da logística e gestão da cadeia de abastecimento.

O conceito de “Gestão da Cadeia de Abastecimento” (Supply Chain Management, em inglês), surgiu em 1985 e usado pelo Professor John B. Houlihan, como evolução do conceito de logística integrada.

A gestão da cadeia de abastecimentos, é a gestão de uma rede interligada de empresas envolvidas na prestação final dos pacotes de produtos e serviços exigido pelos clientes finais. Assim, a gestão da cadeia de fornecimento abrange todos os movimentos necessários e armazenagem de matérias-primas, trabalhos em processo de inventário, e bens acabados do ponto de origem até o ponto de consumo.

O transporte de mercadorias para os locais onde são mais valorizados tem sentido económico, mas permanecem grandes implicações sociais e ambientais. Por exemplo, transportar produtos por via rodoviária pode causar problemas de congestionamento e poluição. No entanto, o acondicionamento da carga de um veículo de forma mais densa, respeitando o peso, pode reduzir o congestionamento e a poluição, criando assim uma maior sustentabilidade da cadeia de abastecimento.

As tendências a longo prazo, são os desafios dos gestores das cadeias de suprimentos e fazem aumentar os requisitos relativos à experiência de gestão estratégica das empresas actuais. As tendências de globalização em curso incluem a crescente intensidade da concorrência, as crescentes procuras de segurança, protecção ambiental e escassez de recursos e, “last but not least”, a necessidade de negócios confiáveis​​, flexíveis e de um sistema de custos eficiente capazes de apoiar a distinção dos clientes.

Mais do que nunca, gestões actuais da cadeia de abastecimento são confrontadas com cadeias de fornecimento complexas e dinâmicas e, portanto, com as tendências e desenvolvimentos que são difíceis de prever.

As empresas e organizações de maior envergadura que actuam no complexo mundo dos negócios sabem que a “Análise do Ciclo de Vida (ACV)” ou “Análise Ambiental do Ciclo de Vida”, é o efeito de um produto no meio ambiente e na saúde. Planear em conformidade com tal impacto não se limita a presentação de relatórios internos, balanços e outras práticas.

Tal processo, pelo contrário deve integrar-se de forma apropriada com as melhores práticas de gestão, dado que a sociedade impõe um preço à poluição através de valores- limite, troca de emissões de carbono do CO2 e outros métodos que a Europa Ocidental é obrigada a cumprir, mas que ainda não foram consolidados nos Estados Unidos, Ásia Oriental ou na América do Sul.

Numa forma ou outra, o sector privado vai-se dando conta de que a ACV reduz resíduos, poupa gastos e é uma boa preparação para regulamentações mais rígidas que serão impostas no futuro. Aplicada com sensatez, a revolução verde ajudará as empresas a identificarem oportunidades mal aproveitadas ou, simplesmente, perdidas e que tenham maior rentabilidade.

Surgem as sequentes questões como a de saber se os subprodutos de um processo podem ser reciclados ou revendidos? Se os resíduos podem ser extraídos de um sistema? Se pode ser limitado o uso de água potável ou controlada a poluição atmosférica? A variante da ACV é relativamente recente, e envolve a ideia de gestão de cadeias de suprimentos verdes. Em alguns casos, as empresas exigem aos fornecedores o cumprimento de estritas normas de conduta, e a revelação de dados relativos ao impacto das suas correntes de abastecimento, como por exemplo, ter em conta apenas efeitos directos.

Essa política arrisca excluir mais de 75 por cento da “Emissão de Gases com Efeito de Estufa (TEGEE)” criados por determinados processos industriais. Tal conclusão é apresentada por investigadores de diversas universidades americanas, em relação aos efeitos poluentes de produtos confeccionados de couro, podendo 80 por cento ser atribuído às fontes de abastecimento, nomeadamente as vacas, cujo esterco fermentado produz metano, um potente gás que estimula o reaquecimento atmosférico.

Os ciclos de vida e as cadeias verdes são processos diferentes. Mas, conjuntamente podem constituir um efectivo instrumento ambiental. Ambas as categorias da reforma verde demonstraram através de estudos realizados, que cerca de 40 por cento dos postos de trabalho, pertenciam a empresas que formam correntes de abastecimento e a conclusão é de que se devia iniciar nestas, a implementação de práticas no sentido de identificar processos, que não criassem resíduos e incentivassem à fabricação de produtos capazes de serem reciclados no final do seu ciclo de vida.

Anteriormente, usava-se o simples processo de comprar ao fornecedor mais barato. Actualmente sabe-se que tal método não funciona. Um número crescente de empresas constata que podem poupar custos, convencendo os seus fornecedores a tornarem-se verdes, e que compreende a ACV de trinta anos, custos de planeamento e execução com critérios verdes.

Um outro aspecto importante a considerar é o acondicionamento de resíduos, tal como consta do “Sistema Ponto Verde”, obrigatório na UE. A maior parte dos países da UE utiliza esse “Sistema”, que tem por objectivo auxiliar as empresas industriais a gerir as suas obrigações em matéria de resíduos de embalagens.

A cadeia de abastecimentos pode ser longa para algumas empresas multinacionais, em virtude de ser composta por todas as empresas, pessoas e recursos compreendidos no ciclo de vida de um produto ou serviço.

A cadeia de suprimentos dos megas retalhistas, tais como a “Carrefour” da França e a “Wal-Mart” dos Estados Unidos, têm dezenas de milhares de fornecedores em dezenas de países e cada loja contém mais de 50000 “Unidades de Manutenção de Estoque” (Stock Keeping Unit - SKU, em inglês).

Colorir de verde tais gigantes pode passar pela adopção de muitas regras, como a dos fornecedores instalarem sistemas de reciclagem, diminuírem resíduos orgânicos, consumir menos energia e combustíveis, passar a usar materiais menos prejudiciais para o ambiente ou limitar as emissões de poluentes.

A cadeia “Wal-Mart” trabalha na China em coordenação com a representação em Pequim da organização não governamental “Fundo de Defesa Ambiental (Environmental Defense Fund – EDF, em inglês), em temas de sustentabilidade e paga cerca de 13 mil milhões de dólares, que representam 10,5 por cento das suas exportações aos fornecedores locais. 

A questão da sustentabilidade na logística e transporte, ou seja, soluções que sejam económico-social e ambientalmente favoráveis​​, torna-se cada vez mais evidente. Nos próximos anos, a gestão da cadeia de abastecimento, assumirá mais tarefas estratégicas, que vão além do seu âmbito de aplicação mais corrente e operacional de actividade.

A fim de responder a essas mudanças e se mantiverem competitividade, os gestores das cadeias de abastecimento precisam de ter a capacidade de identificar e compreender as questões de sustentabilidade na sua empresa e ambiente de negócios.

 

Jorge Rodrigues Simão, in “HojeMacau”, 15.04.2011
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