“Turkey's secularism is almost unique in the modern world. It is not designed to free religion from the interference of the state but to free the state from the interference of religion.”
Paul Kelly
O comandante-chefe das Forças Armadas da Turquia afirmou no dia 12 em Ancara, que era necessário uma operação contra as posições dos rebeldes curdos no Norte do Iraque, reconhecendo que para tal era imprescindível uma decisão política.
À questão posta, se tratava de uma operação transfronteiriça contra o Norte do Iraque, respondeu afirmativamente, na qualidade de soldado.
À questão se apoiaria na actual situação tal intervenção, respondeu igualmente, afirmativamente. Questões feitas pela televisão turca ao máximo responsável do exército numa pouco usual conferência de imprensa.
Referiu-se ao facto de o exército turco estar preparado para cumprir as obrigações que lhe fossem incumbidas. As tensões entre a Turquia e as autoridades autónomas curdas do Norte do Iraque aumentaram nos últimos tempos, tendo a Turquia acusado o ilegalizado Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que é a principal força política entre a população curda, de usar essa região como santuário.
O líder curdo no Norte do Iraque, Masoud Barzani, tem como uma das suas estratégias a intervenção dos curdos iraquianos em ajuda aos seus compatriotas na Turquia, se esta interviesse em Kirkuk, a principal cidade curda no Norte do Iraque.
Masoud Barzani defende a ideia de que a formação de um estado independente é o direito dos curdos que vivem na Turquia, Síria e Iraque.
A advertência feita pelo comandante-chefe das Forças Armadas da Turquia é dirigida indirectamente contra o líder curdo e a todos os que proferirem semelhantes declarações, o que parece insinuar que a ideia defendida por Barzani teria o apoio dos Estados Unidos.
Sobre a situação no Iraque, a Turquia tem uma visão pessimista sobre o futuro do país, dada a evolução da situação interna.
É possível prognosticar a possível fragmentação do Iraque em três novos Estados.
O PKK têm demonstrado práticas que poderiam classificá-lo como uma organização racista, nacionalista e terrorista, e é de lamentar que algumas instituições europeias, como o Parlamento Europeu tenha ideias peregrinas de querer criar minorias na Turquia.
O exército turco está envolvido em operações militares contra o PKK, no Sudeste do país e tem informação sobre preparativos operacionais dos rebeldes curdos no sentido de intensificar as suas actividades na Turquia a partir do próximo mês.
A Turquia acusa os curdos do Iraque de dar abrigo aos elementos do PKK, que em 1984, se transformou em movimento armado para lutar pela autodeterminação dos cerca de doze milhões de curdos no país, em que aproximadamente 38000 pessoas morreram até ao momento.
Só no fim-de-semana da Páscoa faleceram 16 soldados turcos e um número não determinado de rebeldes do PKK.
Entretanto, o comandante-chefe das Forças Armadas da Turquia advertiu que o novo presidente da Turquia, a ser eleito pelo Parlamento num processo de votação que começará dia 27, devendo iniciar funções a 16 de Maio, deverá respeitar os princípios seculares da república turca.
Aviso que atingia o Primeiro-Ministro islamita moderado Erdogan.
No dia 16, começou o processo eleitoral e milhares de pessoas manifestaram-se na capital da Turquia a favor de um Estado secular.
O processo de eleições iniciou-se sem se ter apresentado nenhum candidato.
Numerosos professores universitários e os seus alunos participaram na manifestação, que foi organizada com o apoio do principal partido da oposição, o Partido Popular Republicano (CHP).
As autoridades implementaram grandes medidas de segurança, com mais de 10000 polícias dispostos a intervir se acontecessem incidentes violentos.
Cerca de 300 organizações não governamentais (ONGs), lideradas pela Associação do Pensamento Kemalista (ADD), fizeram um apelo aos cidadãos para que se juntassem no Mausoléu de Ataturk, para impedir que Erdogan fosse eleito presidente.
Membros do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), liderado por Erdogan, que detém a maioria no Parlamento, fizeram face aos manifestantes através de um discurso proferido pelo general retirado Sener Eruygur, que tinha sido acusado de ter planeado um golpe contra o governo em 2004.
Neste contexto, pediu à população que pensasse antes de ir ao comício.
Ainda que, não existisse candidato, o povo turco acreditava que seria Erdogan.
O Presidente, Sezer, avisou que o regime político da Turquia corria um risco sério, inexistente desde a sua fundação, porque até os pouco e indiscutíveis princípios básicos da república secular são matéria de discussão.
O modelo de um Islão moderado proposto para a Turquia, inevitavelmente tornar-se-ia num modelo de islamismo radical.
Dia 20, o Primeiro-Ministro Turco, Erdogan, confirmou que o Ministro dos Negócios Estrangeiros do seu governo, Abdullah Gul, seria o candidato do partido AKP à eleição presidencial de Maio.
Nenhum homem na Turquia pode integrar as Forças Armadas Turcas se a sua mulher usar véu islâmico.
O Presidente da República é o máximo representante das Forças Armadas Turcas a par do guardião do secularismo, uma entidade militar separada do Governo que policia o secularismo e que actualmente está representada pelo comandante-chefe das Forças Armadas da Turquia.
Acontece que a mulher do candidato usa o véu islâmico.
O Presidente Sezer, jurista defende que o sistema secular corre o pior perigo desde que fora instituído em 1923.
Recorde-se que, no passado, as forças armadas eram a alavanca para manter ou derrubar governos civis.
Muitas vezes governavam directamente. O quadro é contraditório. Por um lado, o povo turco opõe-se em massa a uma ruptura do sistema laico.
Por outra, lado segundo as sondagens, se houvesse eleições o partido governamental AKP conseguiria mais votos que em 2002. Com 34,6% do total dos votos, o partido obteve dois terços (maioria absoluta) no Parlamento.
Erdogan seduziu milhares de militares com uma campanha contra supostos terroristas curdos, no Sudeste do país, pretensamente auxiliados pelo governo autónomo da mesma etnia no Nordeste do Iraque. Por outro lado, a firmeza do Primeiro-Ministro perante certas exigências da União Europeia (UE) contribui para ganhar votos. Não é por acaso que dia 21 Erdogan pediu com dureza à Chanceler alemã Ângela Merkel, e actual Presidente do Conselho da UE, para se decidir se quer ou não a Turquia dentro da Europa.
A política seguida por Erdogan será a seguida com o novo Presidente designado por aquele.Prevê-se um período conturbado a nível interno e nas suas relações com a UE.